Era noite, argêntea a lua
Triste sina, alegoria
Feito rocha lá no fundo
Da lagoa de água fria.
Era fado, desventura
Tocha acesa, Grécia Antiga
Na parede da caverna
Uma sombra refletida.
Eram várias, mil pinturas
Mão criada em solo agreste
Vaticínios na gordura
Em pinturas tão rupestres.
Era um sino, um sinal
De um futuro promissor
Para o débil animal
O que ousou ser sonhador.
Cai a tarde e invade o dia
Sinfonia em costa verde
Devorando a fantasia
Fabricada na parede.
E era meu. Agora tu
Descobrindo multiversos
Descobertos corpos nus
Decantados nestes versos.
Sem saber quem tanto foi
Quanto tempo a "Disparada"
Na boiada quanto boi
Qu'inda aguarda ser marcada.
Sendo boi e sendo um homem
Sem saber qual homem era
Pois um homem mata a fome
Na parede da caverna.
Pois um homem, sendo um homem,
Tem um pouco de homem-fera
Mata o homem que o homem come
Beba o sangue e o corpo enterra.
Uma tocha? Quem a traz
Sem saber que sombras eram?
Pelos pontos cardiais
Quantos contos compuseram?
Não me atente, Satanás,
Quando eu estiver sozinho
Em desertos descobrindo
Quanto bem que o mal me faz.
Se sou cego e sou surdo
Não existe quem me pega
Pois pior cego do mundo
Sempre foi quem não se enxerga
Quem não tem o brilho solto
Quem desiste quando erra
E quem tem voltado o rosto
P'ra parede da caverna.
Gyl Ferrys