Poemas : 

Sem título(97)

 
Quando me pedes pão

Eu sei venerar a seara onde és terra mater

Quando bailo ao sabor das espigas douradas do estio

Danço na tua dança de amor lascivo

Quando nomeias a ternura por dentro das florestas ou dos mares

Levo-te no meu dorso de golfinho

Cubro-te de sombra nas intempéries de sóis abrasadores

Se por acaso te fazes deserto de ti



Quando me falas de amor

Decanto-me liquefaço-me nas tuas torrentes de amor

Estás por dentro de mim na posse conjugada

És a face na face consumada do encontro

Faço-me suave murmúrio na pele maximizada em decibéis de desejo

Tacteio trajectos arquitecturas novos mundos

Posso cegar em olhos de ver

E na tua luz confiarei meu corpo e meu espírito consagrados a ti


Quando me pedes pão

E na miséria do meu ser nada possuir a teu contento

Mas sabendo-te ser mais que a deusa de todas as deusas

De mim faço húmus a terra estéril

Por teu carecer e por te querer tanto como o trigo anseia ser dourado ao sol

Por te ter em mim como é ter o útero pleno de vida palpitante

Como me sentir macho e saber de como é ser macho com a mulher a completar-me

Sentir-te em mim sentir-te a mulher mais amada na exuberância do teu sorriso

E o meu sorriso possuído no mar do teu olhar

E a esperança a reinar do horizonte dos teus desejos

Se falar agora de riquezas em verdade pura

Falarei de duas esmeraldas que atravessam meu coração

Porque só os teus olhos me penetram ao fundo do meu ser


Quando me pedes pão

Fermentas em mim os mais sublimes desejos

Quando nomeio o amor

Deitas-me em mim com as clarividências de mulher eleita

Quando me pedes pão

Serei mais que o saciar da tua fome

E todos os mares são ínfimos nas águas que detenho para te saciar

Porque tudo o que oferto é pertença do teu amor excelso

Porque o todo do amor nomeado se escreve com o teu nome


Dionísio Dinis



 
Autor
Dionísio Dinis
 
Texto
Data
Leituras
947
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
8 pontos
8
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/05/2008 21:35  Atualizado: 01/05/2008 21:35
 Re: Sem título(97)
Muito criativo e original. Parabéns. Abraço


Enviado por Tópico
Tália
Publicado: 01/05/2008 21:59  Atualizado: 01/05/2008 21:59
Colaborador
Usuário desde: 18/09/2006
Localidade: Lisboa
Mensagens: 2489
 Re: Sem título(97)
Tinha muitas saudades de te ler.

Beijo amigo Dionisio


Enviado por Tópico
Alemtagus
Publicado: 01/05/2008 22:48  Atualizado: 01/05/2008 22:48
Membro de honra
Usuário desde: 24/12/2006
Localidade: Montemor-o-Novo
Mensagens: 3408
 Re: Sem título(97) p/ Dionísio Dinis
De volta às letras quem há muito não se deixava ver. Folgo em ler-te amigo D. Dinis.

Abraço

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/05/2008 22:54  Atualizado: 01/05/2008 22:54
 Re: Sem título(97) - p/Dionísio Dinis
ninguém em ti morrerá de fome, tens pão. nem de tédio, tens uma rica poesia. 1aBRaço.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 02/05/2008 01:31  Atualizado: 02/05/2008 01:31
 Re: Sem título(97)
Gosto da delicadeza de tuas palavras, numa inspiração leve e delicada, digna de um poeta expressivo feito você. A sua coleção de poemas sem título ganha mais um texto - muito bom, parabéns.
Um abraço, Godi.

Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 12/05/2008 00:04  Atualizado: 12/05/2008 00:04
Colaborador
Usuário desde: 24/07/2007
Localidade: BRASIL
Mensagens: 6868
 Re: Sem título(97)
OLÁ DIONÍSIO! TENS UM POEMA ENCORPADO, ENIGMÁTICO E SEDUTOR. PARABÉNS PELO TRABALHO. LEDALGE,BJ