E na cidade de céu em chamas
Uma orquídea vicejou no asfalto
E o que era semelhante ao vidro
Simplesmente não se quebrou.
Lembranças de antanho de algo que não se viveu.
Quando passou aquele cometa
Algumas senhoras caíram de joelhos
E pediram aos deuses, em suas orações,
Que o trigo não fosse mais feito de pão.
E os cabelos do príncipe,
Não o de Maquiavel,
Nem o de Exupéry,
Mas do Enola Gay,
Lembraram à atmosfera do porvir do aloirado cogumelo que nunca foi azul.
Quem se lembra da menina do diário nazista?
Quem, além de mim, lamentou a morte de Brecht?
Nenhum de Nós cantou David Bowie
Quando o Biquíni era Cavadão.
O homem de lã parecia ao rei nu.
Porém todas as crianças estavam mortas.
Os carros pararam na contramão.
Os pássaros voaram até morrer.
As mãos fizeram orações
E no céu um novo sol foi impedido
De conceber um novo aeon.
Não pude conter o meu grito de horror.
Não pude sequer segurar com as mãos.
Tentei sorrir, mas de tristeza eu chorei.
E o homem de lã apertou o botão.
A cidade de céu em chamas caiu
E a única orquídea que brotou no asfalto morreu
Negando ao futuro o legado de nossa existência.
Gyl Ferrys