Quanta falta que você me faz.
Que saudade danada dos rios
De risos, dos sonhos sonhados
E não vividos pelo simples motivo
Que nos tocou os dedos do Destino
E beijou-nos os lábios do Tempo fugaz!
Parece que eu sinto os abraços não dados
Os beijos calados que se perderam no espaço
De um átimo, numa fração de apenas um segundo
Onde todo amor contido no mundo cabia dentro de nós
De vós, do eu, do meu, do teu, do todo e de tudo.
Ah, Como é sacana aquela gigante aranha
Que vai tecendo dia a dia a nossa melancolia
Que vai crescendo, crescendo e vira montanha
Estranha de um tecido triste vestida de poesia!
O que fazer? Morrer vivo ou viver morrendo?
Assistir as maranhas das manhãs e as manhas
Ciganas do espetáculo do alvorecer sem te ter?
Do que me adianta se a felicidade que era tanta ( ou tantã?)
Agora não passa de um planta que não quer nascer?
Murcharam as rosas e morreram as margaridas imarcescíveis. Não amarelece mais o meu sol
Foram se embora as cotovias, calou-se o rouxinol,
E o que era vida agora não passa de chagas e feridas.
Que quebrem-se as liras, as rimas ricas e líricas!
Que morra a míngua a língua do pequeno poeta!
Que as minhas linhas sejam todas sacanas e satíricas!
Que os meta-poemas se tornem os meus poemas-metas!
Blém, blém, blém. Tocaram os sinos de Belém.
Nasceu o menino que, dizem, é o pai do Homem.
Uma pena que a pena do poeta não mata a fome.
Blém, blém, blém! Não mata a fome de Ninguém.
Gyl Ferrys