De onde venho não há primaveras floridas
Só há as noites eternas e suas longas mãos
O vento ronda à minha janela como soluço
Um alarido para que eu esqueça quem sou
Lá fora, poentes dolorosos, nessa planície
Onde, cotidianamente, morro com os dias
Quem me invoca o nome além dos mortos?
Tão sós, contemplam o horizonte pelo mar
A garganta se cala entre mil interrogações
Esta terra de frutos pálidos não é a minha
Nem estes regatos são traços de meus rios
Ouço línguas estranhas e não compreendo
A névoa sepulta o ouro de velhas canções
Recolho-me no luto, para não enlouquecer
O teu semblante eterno, não me abandona
Sempre me fitas, silente, um cristal no céu
Mas por mais que te veja, não te encontro
Assim a vida segue entre retornos infinitos
Escrito em L.A. Califórnia, em 1979 achado entre fragmentos de papéis caídos numa fresta da minha escrivaninha, alguns trechos estavam ilegíveis e restaurei entre a memória e a lógica...