Sento-me à mesa e curvo-me ao amor, às miragens e aos desertos
Busco a verdade em poucos gestos, a dor e a estrela como irmãs
Entrego as palavras corroídas pela ilusão e pelo espírito em fogo
Aceno ao mundo com breves recordações, todas alheias à razão
Eu fiz-me entregar à cegueira para poder ver com mais perfeição
E, na imensidão do nada, foi onde pude ver a eternidade exposta
Uma canção como lamento vem da janela, é chegada a primavera
Sei que nesta viagem a morte pode embarcar na próxima estação
Como precaução saltarei uma antes, pois não há pureza absoluta
Aceite o olimpo os tantos poetas que saltaram na estação errada
Fazendo poemas sobre o que nunca tocaram, sobre flores mortas
Se errei foi ser tal a jovem que quer a virgindade, mas dorme nua
Tive olhos doces a me seduzir, mas sei que o mel pode ser veneno
Aguçaram-me os sentidos as bocas onde brilha o vermelho batom
Em todos acenos, braços estendidos, fugi por saber-lhe as presas
Mas vi a inocência residir n’outros belos olhos, banhados em azul
Sem tramas ou linguajar cáusticos, tua canção promete surpresa
Curvo-me para beijar-te os pés, pois falas a língua dos menestréis
Curvo-me com humildade, pois sei que muitas coisas ainda ignoro
Vergo-me à divina existência da mulher, condenação dos incautos