A noite é da natureza, mas a escuridão vem de dentro
Esse halo negro que a tudo envolve vem das entranhas
Permeia os poros daqueles entregues à incompreensão
Que preferem a facilidade do ódio, à nobreza do amor
O poema pode elevar-nos da mesmice, do lugar comum
Mas se não nascer polido e esmerilhado no sentimento
Breve, seremos tais quais antigos menestréis pelas ruas
Meros agoureiros das trevas às quais aspiramos resistir
Com a voz firme embora terna exalaremos humanidade
E nossos versos irradiarão, como cristais, a conciliação
Nós, sim nós, dedilhamos corda a corda a harpa da vida
Sem medo de, num soluço rouco inquietar seja estrelas
Seja aos vermes concupiscentes que sejam hostis a nós
De toda perspectiva qualquer caminho tem bifurcação
Cada estrada carrega sua sina, sua dor e seus silêncios
E cumpre-nos a escolha de nos unirmos aos relâmpagos
Para fulgurar, ainda pontualmente, as sombras da alma
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)