Entre as sombras imprimidas no chão da
tarde, eis a minha inquieta, no vai e vem
desesperando.
Sim, porque há desconfiança em mim deste
tempo que faz a vida chorar, sorrindo!
Abrem-se flores e o sol doura o chão. O
céu mostra-se como um tapete de
nuvens. Mas tudo é veneno doce! Do meio do
que regozija sempre surge a mão que aperta
a garganta até embaçar os olhos e a dor
beber alegria!
O que não é falso, no tempo, é fantasia!
E eu, que nem eu, pra mim, sou verdade, como aqueles muitos parecidos
que pensam que são a energia essencial
para a rotação do chão mas, no vento mais veloz,
são os primeiros que vão
desconhecendo o rumo, a cor,
o aroma, o gosto e acima de tudo,
a dor que se assombra num poema.
É meu corpo que escreve os meus poemas.
Minha alma é a sucursal da minha mão.
As palavras me buscam no silêncio.
Palavras são estrelas que reclamam
o papel branco: céu, constelação.
(Os Poemas - Lêdo Ivo)