A noite de inverno vai chegando
A meus olhos
Com cheiro pobre de Natal nas avenidas.
A neve entre chuva miudinha
Vai deixando os pés frios
E o caminho escorregadio
Do que resta em folhas outonais.
As chaminés comecam a fabricar
Um nevoeiro vago
Que embacia a luz dos candeeiros
Solitários. E os meus olhos.
São 17 horas a bater ao recolher
Do último roçar da vertigem
Que apressa a noite e o descanso
Dos olhos, dos meus olhos contra o tecto duro.
Caio de costas e aguardo
Que o cobertor agitado sobre o corpo
Me ajude a apagar as imagens
Que ainda restam da sordidez
Que as sombras me sugerem.
A meus olhos
Tudo à volta é monótono, repetição.
Sempre tive
A perpectiva de não acordar ali.
Serão meus olhos,
Nada muda, mas a noite avança
Em meus olhos tão parados.
A nova claridade num ápice
Traz os pardais ao meu beiral
Como se Primavera fosse, visão da rua
Entre a luz das persianas.
Lembro minha mãe de papéis no cabelo
Vergada sobre a minha testa
Sentada na beira da cama.
Eu, fecho os olhos com força, muita força
Sem paciência para me apropriar do mundo.
Levanto-me, deixo- me ir, pelo dia escurecido
Sobre o mundo que gira
Para poupar o combustível do tempo
Tempo que não pára nem anda
Como que esquecido.
(pergunto agora pela saúde dos meus óculos)