Até ao último suor
Em terno passo passejado
pedanceia-se uma loira extrovertida
que enfadada com a vida
pretende fugir a correr do passado.
Com pedras pomes na penúria,
esfrega de si a pele pecaminosa,
que mais nada fez que amar com fúria,
na vez de ter sonhos cor-de-rosa...
Jovial, nefasta, impúdica e periclitante
em trevos de quatro folhas se deleita!
Coberta de farpas de arame se doi, desfeita,
abraçando o tronco viril do seu amante.
Sedenta, insaciável, dengosa!
com olhos fere, com sorriso manda!
Temida por esta e pela outra banda,
amada por todos, do poema à prosa...
Em prova perdida perdeu um seio,
em choros vendida será sempre pura,
porque se um seio se foi o outro dura
e esse é o antónimo de feio!
Com um só seio amamentou dois filhos!
Com um só beijo engravidou outra vez?!
Porque não foi mais do que sempre fez:
meter-se em milhentos cadilhos...
Era uma vulva quente e desejada
entre muitas as prendas que tinha!
Era o mato, a cor, nunca sozinha,
sem medo , feliz e realizada...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.