Cozinha
Amanhecera terrivelmente quente.
Muito cedo sol invadira a cozinha.
Da vidraça quebrada avistava-se velha cortina.
Azul tinha sido um dia.
Engordurada, não balançava.
Pia bastante gasta abrigava copos e talheres
Abandonados na modorrenta madrugada.
Paredes ligeiramente limpas.
Não tinha mais forças.
Perdera a mocidade.
Azulejos partidos aqui e ali.
Geladeira pequena e antiga quase nada abrigava.
Toalha xadrez de plástico cobria a tosca mesa ladeada por dois bancos.
Nela repousava tristemente velho açucareiro.
De pé, a mulher olhava e suspirava.
Vestido estampado cobria corpo franzino.
Cabelos brancos e desalinhados escondiam rosto cansado.
Não tinha hábito de se lastimar.
Colocou chaleira no fogão de duas bocas.
Escondido entre rugas do rosto surgira um largo sorriso.
Estava viva.
Água para o café fervia no compasso de seu canto.
Gostava de saudar a vinda do luminoso sol quente entrar sem permissão na sua simples e boa cozinha.
Alexandre Sansone
23.11.2021