aquele sol que desponta na serra
trás o calor de seus abraços
que se foram naquela manhã espúria
o vento gelado de junho
soprou sobre meus ombros
a brisa do armagedom
apagou os seus olhos verdes
emudeceu o seu cantar,
calou, para sempre sua alegria
vésper, a estrela,
se assenhoreou de ti
- te levou de mim -
e reflete o seu sorriso
na soleira de minha janela
desde o irromper da aurora
até o enfurnar da boca da noite
- vésper se casa com uma lua em forma de unha
naquele deboche descarado
feito bandeira da turquia,
e te mantém como prenda me roubando o prazer de sentir sua presença!
e eu te vejo lá
toda faceira, sorridente
e o meu ventre em pulsas absorve tua alma
e aquele sorriso
encarta a rebeldia daquele saber
que só tu tivestes
contenho-me;
"os filhos sabem mais"
o respirar cansado
e o ar sem o seu gosto
penetra-me e por dentro
eu sufoco a ânsia de chorar por ti,
mais uma vez
mas, quantas vezes
e que chorar,
por mais chorar
só faz abrir o vão de sua ausência
o meu ventre
- onde recostavas o rosto
os meus sentidos
os meus poros
os meus sonhos
clamam e pulsam
por sua presença
numa cadência indolente
e não há passar insentido
a canção que dividias comigo:
"você passou por mim
sem dar-me atenção..."
mas, o infortúnio do desate
veio de ser mais forte
mais forte que nós ambos
mais forte, que todos de nossa casa
e ainda
lá de longe
da lonjura de uma estrada triste
surge o canto de nós todos
"...vem meu ursinho querido
meu companheirinho
ursinho pimpão..."
porquê, os filhos?
ah os filhos
estes só vão depois!
mas você, agora, é só o meu sonho
o grande elo criado entre mim
e o firmamento
- a natureza me desmente
e vésper, é quem te respira
na alva da manhã
e te expõe,
no entrecorte
do anoitecer.
somente vésper te possui
para gáudio de seus delírios
para ornato de seus campos reluzentes
onde brilham
todas as estrelas do éter
e que por certo encantadas
- todas elas
se perdem no sorriso de sua beleza
por cá não me contenho
com o desplante daquele alento
de poder amar-te, além da vida
de onde me vem o soluçar diário.
Leia de Wagner M. Martins
FALA, FILHO DA MÃE!!! - Capa Paulo Vieira
UM BICHINHO À TOA. - Capa: Camilinho
Participação:
Livro OLHA PROCÊ VÊ! de Elias Rodrigues de Oliveira
No prelo:
UM INTRUSO NO QUINTAL