Pintura
O menino observava o pingar da chuva na areia seca.
Fazia calor.
Sentado na soleira da porta sentia o cheiro do almoço distante.
Não havia brasa esquentando panelas vazias como seu ventre.
Chão rude dominava.
Fixava olhar na busca do futuro ausente.
Nada havia.
Nem brinquedos e brincadeiras.
Apenas um longo caminho além do pequeno portão.
Pai e irmãos partiram.
Foram procurar a vida.
Esqueceram o adeus.
Mãe, triste, soluçava.
Destino vazio e perdido.
Reza, quase lamento.
Sussurrava coragem para partir.
Colocar pés descalços na estrada.
Caminhar ao lado do filho.
Deixando pingos da chuva molharem seus corpos secos.
Alexandre Sansone
16.11.2021