Poemas : 

ciclo da boca seca

 
nunca se poderá dizer
que esta foi a primeira
vez que me servi
do seu olhar
para ressequir estas folhas
de caran d'ache
e de acidez

se regressei foi só para
esquecer e encontrar
no lugar de todas as sedes
uma certa voz

aprendi a ler no deserto
como as serpentes sabem
mais dos regatos e dos
fundos da ventura
que a rua de carvalhos
americanos pelo inverno
à janela ubíqua de um verso

cuidado com os lirismos
de cabeceira

é que só pelas diversões puras
de um bicho
se compreende
verosimilmente
quanto se avizinham
as vésperas de uma nova
idade

ou o incêndio de uma palavra
que permanece

 
Autor
Benjamin Pó
 
Texto
Data
Leituras
704
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
18 pontos
4
3
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/11/2021 16:29  Atualizado: 05/11/2021 09:54
 Incêndio é uma palavra que permanece











































O incêndio é uma palavra
Que permanece pelo que o
Devemos limitar às horas
E ao fora delas como coisas
Que se rejeitam, e a respeito

De labaredas, estas não me
Dizem nada crepitam apenas,
Os outros sentidos tão carnais
Quanto basta no que me toca,
Incêndio uma palavra banal

Quando morta de grandeza
E de facto palha, faísca acesa






























O poeta superior diz o que efectivamente sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir.

PeSsoa







Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 05/11/2021 01:57  Atualizado: 05/11/2021 01:58
Membro de honra
Usuário desde: 27/10/2021
Localidade:
Mensagens: 642
 Re: ciclo da boca seca
mais um poema para nos fazer pensar. o comentário do namastibet também é de boa leitura, e o seu do pessoa, claro.

Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 05/11/2021 02:49  Atualizado: 05/11/2021 02:52
Administrador
Usuário desde: 14/08/2018
Localidade: काठमाडौं (Nepal)
Mensagens: 2241
 Re: ciclo da boca seca
"Quando eu sinto, sou diferente dos demais que sentem com o coração, eu sinto com toda minha existência, meu sangue e neurônios. Quando eu sinto, isso até me atrapalha para pensar. Pensar e sentir são antagônicos.

(Pessoa)




Esta pessoa aqui... eu.