Esta urbanização amanheceu hoje uma vez mais bonita, tão doentia quanto medonha. No bloco de fronte está a ambulância do INEM e um automóvel da Polícia de Segurança Pública parados rodeados por moradoras gordas e magras, mamalhudas e gaseantes gesticulando em voz alta mostrando toda a natureza apolínea, maliciosa, portanto, trágica do mundo. Há um cão preso numa varanda que não se cansa de ladrar e eu, que sou um camelo e queria tanto fugir encontro-me frustrado, detido num desejo quase obsessivo de fazer amor para lá do paraíso que representa a droga, e que é toda esta vista panorâmica horrivelmente bonita e decadente, de uma violência… humanamente bonita, infernal. As mulheres da minha idade e quantas mais novas têm uma aparência fiat stilo sport, os gatos são como o raio raios os partam, de um aspeto, económico, tão bonito e redondo quanto um andaime e a carne deitada às vespas. Ah… que saudade da alvura, da beleza intrínseca a uma rosa extraordinária, sã, e no entanto, as maçãs podres
ela deu-me um cavalo e levou-me o canto deu-me um pote de mel levou metade das nuvens deu-me rios interditos que levou, deu-me água levou-me a sede e ainda vejo um pássaro perdido e um arco-íris muito belo ausente
crinas doiradas natureza bonita rosa sopro que entraste sem pedir e já tudo me cai e que o meu amor não dome essas tuas cores indie mar cla -ve de sol de vida margarida
tudo vai desaparecendo o visível não existe e não há humanidade no coração bandido
já não há mais amor que formandos submissos na vitrine combatendo pelo prato de marisco bem cozido em lume, triste
qual próximo o feliz infeliz ou o infeliz feliz à mesa do pizza hut bebendo a chuva mais sozinho que a ponte sobre o rio mondego areado na tela enlameada transmigrando o copo à hora da morte
a poesia acabou
A vida tem mais sabor e encanto quando na companhia de uma flor exalamos o seu perfume de temperos, embriagantes e até, teatrais. A sensação é salvo seja, a plenitude. O aroma de uma flor amorosa, desde a ternura ao vinagre, desde a alvorada à noite, do mel à sensualidade corruptível e maravilhosa da sua pele delicada, desde o amor que se faz carinhosamente sem pudor tal a inocência às lágrimas quando o mármore transcende o supremo… Ah… eu quero uma boa
Eu diria: quem tem uma rosa tem tudo.
ora como é que vive um pobre, um pobre sem amor não vive, sobrevive, olha, este é o último café
amurado na tarde o sol chama na inquietude da alma exangue no chão que não deveria ser o meu
aqueceria ele o coração num braile picotado flexível inclinado a compreender a noite que lhe sorri impregnada das mais distintas sombras como se a morte não cozesse a folha em super slow motion
brancura, brancura subamos à brancura
eu falho duro, a morrer num ar de rosa abro o coração e morro
morro, morro que a noite esconde e a música distante encolhe os ombros não há pombos, não há
Tristes poetas subversivos como cordas faustosas contemplando a luz etérea que cegou o coração filmográfico, dissidente, num inconfundível falsete palpável de óleos acamados na tela insinuando que eu só o queria provar quando eu, sepultado vivo, só o queria tocar. Tristes poetas de merda quando no alto das cobras, rebentem
onde outrora havia peixes o ermo profundo da morte
onde crescia o vinho comprazia-se o pão a terra queimada ferida de morte
deus murchou e a mãe natura magoada esmagada zangada
onde houver uma possibilidade lá estará a malvadez, a cegueira, a fome dos homens continuando
a olhar para nós como seres imperiosos quando os caminhos de ferro que somos são o único mal
e se um dia nos extinguirmos a culpa será sempre do; diabo os homens são os mais dotados e esquecem-se de como de faz amor amor