Quando te fostes, de meus olhos, correu um rio de lágrimas
Minha imagem, única ao espelho, confirmou a minha solidão
Uma descoberta inútil, o silêncio já me contara da tua partida
Olho a vastidão dos lençóis onde se celebrou outra revoada
Meus pássaros selvagens a visitar teu corpo alvadio todo nu
Para reconhecer que tua parte de mim é mais que jamais fui
Olho à janela e as nuvens também choram lágrimas saudosas
De um tempo que éramos tu e eu, um tempo que fomos nós
Essa lembrança me fere na alma, onde resta chaga fremente
Que se estende até a linha do horizonte, onde imagino estás
Eram sonhos, tantos sonhos e todos se perderam no abismo
Quando tiveste que afastar a máscara e mostrar tuas raízes
Foi então que a verdade prevaleceu e vi que eu não era feliz
Palavras incandescentes que se tornaram silêncios obscuros
O vinho se fez em sangue, mas não fará o meu tinteiro secar
Nas linhas do poema, assinalarei a saída de mais um labirinto
É minha essência domar o cometa e ser uma infinita mutação
San Francisco (CA), 1976
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)