Nenhuma palavra é tão complexa para sozinha definir o poema
Por isso, as lanço em turbilhões envoltas em frases desconexas
O papel acolhedor as recebe, negras, azuis, em pena ou carvão
Não digo que nada sei, pois bem que sempre soube umas coisas
Decerto é a razão de eu vir aqui, pois é do arco lançar as flechas
Não sou um ás da poesia, nem acho tão supremos meus versos
São apenas coisas do coração, um quê de liberdade expurgada
Fugitiva dos que segregam o amor ou dizem-no objeto obsoleto
Nas alamedas onde o perigo está presente o poema é o girassol
Que empresta ares de sol às frias lâmpadas distantes da cidade
Admiro os detentores do singular milagre de possuir a verdade
Cuja posse justificaria o propósito a de modo algum se sacrificar
Por coisas quais, ainda que remotas, tenham a visa de ser justas
Iludidos pelo canto da sereia até veem cadáveres à tona d’água
Mas nenhuma palavra é tão grandiosa que não haja outra maior
Nenhum silêncio é tão eloquente quanto o silêncio dos que
se calaram quando era a dignidade que exigia ter a sua fala.