Eis que o inverno já se foi e o verde das colinas revive
Ouço, antes da noite, um último lamento dos pássaros
A chamar nas planuras de encontro ao rumor marinho
Minha mão traça no ar linhas de caminhos imaginários
Onde correm, cinzas, os lobos sob o troar dos trovões
No ar persiste o cheiro de terra molhada, olor de vida
Movo os olhos e lembro que dissestes foi tudo em vão
Mas cada gesto, cada expressão desta face eram teus
Enquanto os dias floriam violetas por jardins distantes
Por tuas escolhas a varanda de tua casa já resta vazia
Desnudada entre as bandeirolas de uma festa passada
Que ficou no dia de ontem, orlada de sombras apenas
Ficou no passado o dia que andávamos de mãos dadas
Pois para ti nada existiu e assim se findou tua história
Mas se minha idade não permite que faça isso invisível
Posto que, as lembranças não devem ser abandonadas
Elas me são tão só lembranças e a vida segue renovada
Nas estações da minha vida, já tem tempo é primavera
E, meu coração peregrino encontrou afinal seu abrigo
Seu lugar no pinheiro, na derradeira luz, a olhar o mar