Pudesse eu, andar pelas calçadas, olhar a transparência
dos gestos, no mistério que veste os dias.
Pudesse eu, vislumbrar em cada olhar, uma alma que se eleva,
leve e solta, desprendida de um qualquer olhar cego,
na nitidez dos silêncios e das palavras.
Pudesse eu, sentir na imprecisão dos dias a amabilidade
e iniciativa vestida de cuidado, como uma moldura de sensatez
e responsabilidade.
Pudesse eu, esperar a alvura do olhar em dedicação, na margem
de todos os caminhos da inconstância, sentir a esperança brotar
levemente, bem docemente, emancipada, voluntariosa e precisa.
Pudesse eu, desfazer as realidades desafiadoras,
na inexistência de todas as realidades que me rondam.
Pudesse eu, ver a bondade, na imensidão que se expõe
tão inacessível e arrepiante à voz da indiferença.
Pudesse eu, sentir a leveza de tudo e munir-me de certezas,
ainda que o vácuo da desesperança se levante.
Pudesse eu, deixar sair de mim esta criança inocente, segurar
na sua mão, fitar o seu rosto angélico, reerguer um novo existir,
e em novidade de vida, de peito aberto e afoito, receber em mim
esta quietude, num olhar longe de mim, mais perto de Deus.
Alice Vaz de Barros
Alice Vaz De Barros