Está escuro aqui.
Estarei sozinho
e gritar quem pode salvar-me?
Salvar-me de mim?
Tenho medo e faço silêncio.
Passei a vida inteira a esconder-me,
Para me perder de quem sou;
sem gostar do corpo mórbido
da alma complexada e destrocida.
Gritar quem pode salvar-me
E eu gritarei ainda mais alto
se assim for preciso!
À surdez, que me faça a música tocar por dentro,
para que me possa ressoar aos cantos como uma luz;
para que eu possa ter um mapa de dentro de mim;
quem sabe, para me encontrar.
Quem sabe para nunca me achar.
E ela grita:
"Eu amo-te muito."
É injusto o que me fazes...
Como me podes amar
quando eu nem sequer sei quem sou?
Como me podes amar, ao embrulho de mim
quando eu sinto as artérias embrulhar-me
e torcer-me o coração;
fatigar-me o corpo
destorcer-me a mente; ao ponto
de eu nao saber se te amo de volta sequer?
Como é que posso querer-te
se eu nem sequer me quero a mim?
Se eu ainda não sei quem sou
Já não escrevo mais...
Não escrevo por está demasiado escuro dentro de mim.
Está escuro e a lágrimas não ajudam...
Tenho medo e estou sozinho.
Aqui dentro estou realmente sozinho!
E há uma guerra sem sobreviventes,
Despeço-me dos combatentes
porque eu sei que vão voltar nunca mais.
E eu já gostei deles
Foram todos meus amigos e eu já gostei deles.
Conheço-os a todos por eu já os fui...
Ou não os fui também,
em todas a probabilidades que há na vida de se ser e não ser,
em todas as realidades e probabilidades do que eu poderia ter sido
no infindável, e se....
Mas não sou...
Terei-me-ei vencido e como me sinto derrotado?!
Tenho a vontade de abraçar-me
Por pena e raiva de me querer rasgar
em toda a complexidade que há em mim
em todo o minimalismo da racionalidade excessiva que tenho...
E gritar quem pode salvar-me
Daquilo que está dentro de mim?
Quando não gosto do fim de um texto,
sinto que não gosto do fim de mim.