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Lamentos de caboclo

 
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Lamentos de caboclo

Por um trilho estreito entre samambaia
De chapéu de palha eu ia pra mina
Enchia a moringa com a canequinha
De água fresquinha, limpa e cristalina

Depois me sentava no barranco ao lado
E entusiasmado eu ficava olhando
A queda da água rodando o moinho
E no ribeirãozinho o monjolo malhando

À tarde eu deixava o monjolo parado
E o arroz socado levava pra janta
Corria na venda, comprava envelope
Voltava à galope num cavalo pampa

Tomava um traguinho, jantava bastante
Achava importante escrever pros parentes
Contando que a roça estava limpinha
E que ninguém tinha ficado doente

Mas minha pobreza foi contaminando
E aos poucos tirando esta felicidade
Deixei minha roça, meu berço sagrado
Me vi obrigado a mudar pra cidade

Passei a comer arroz de pacote
Troquei a moringa por filtro esmaltado
Nem carta escrevo, pois vivo sozinho
Só vejo moinho no supermercado

Se vejo monjolo, é movido a motor
Só em casas de flores vejo samambaia
Mas fico orgulhoso por ver margaridas
Limpando avenidas de chapéu de palha

A grande saudade que tenho guardada
Será revelada se um dia eu voltar
Então pedirei perdão ao presente
Pra eternamente na roça eu ficar.

Composição: Carlos Cesar e Morgado.

jmd/Maringá, 16.09.21


verde

 
Autor
João Marino Delize
 
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