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Ah prevaleço-me de que se foi distante a minha aurora e vejo quão privilegiado sou ainda estar aqui contigo; bom, lembrar-me das belas e continuadas histórias, tantas quantas me contavam da estação das flores, que me inspiram cantá-las, as dos meus tempos vividos.
Percebo que aos sinais da finda e fria época que antecede, brotam tímidas e sem anúncio as violetas de lapela, e as novas folhas das gramíneas e dos bambuzais, arte da natureza, ensaiando a floração da primavera, visto nos tenros brotos e botões esculpidos nos roseirais.
Sem ranhetice, fico aguardando ano após anos pacientemente esse momento mágico e grande, sempre com aquele olhar menino e ver surgindo enfeitando os jardins exuberantes; gladíolos, cravos, íris e jasmins rodeados de brancas margaridas, esfuziante saudação setembrina, data incomensuravelmente bela.
Nalguns arbustos, o vigor reflorestado para o tempo fruto, nos galhos das amoreiras casulos se contorcem sem ais, bailado frenético que culminará em explosão viva de belos seres
em voos numa variedade incalculável de borboletas tropicais.
É o ápice desses momentos vividos, único e indivisível, campos, montanhas e serrados ganham pinceladas de cores, nuances verde em dégradé e nos salpicos coloridos das flores.
Na fábula da prudente formiga, desperta a cigarra novamente, é a primavera aguçando o sentido do poeta que a saúda com seu canto, não mais dorme, não mais chora, cessam as lágrimas do seu pranto ficam só as cores das flores douradas pelo sol das tardes quentes.
Fim da hibernação nos botequins aquecidos pelos conhaques e das longas e negras noites, agora é céu estrelado em azul anil.
Cessam as madrugadas frias em conluio com as chuvas finas, as almas abstêm-se de álcool, embebedam-se com o perfume do ar.
As bocas e os corações sorriem, é tempo de a alegria dominar, tantas palavras ainda pra dizer, mas é apenas mais uma primavera.