O poeta empunha a pena e recorta versos pelas paredes
O artesão moldando em pedra silente, polindo as arestas
As águas correm negras pelas sombras de sua ordenação
Os cabelos lisos como ramagens das geométricas árvores
Luzem sob a noite sinistra em que o vento se move lento
No fundo toca blues e a guitarra declama seus lamentos
Onde está o infinito, onde se guarda mistérios de ontem
A ideia que se teve enquanto ouvia o silvo das serpentes
O tempo é o engano e somos seus prisioneiros maquinais
Primeiro a vertigem que se desdobra e precede a queda
Os fardos que nos oprimem, nós mesmos os construímos
Os espinhos são os que semeamos pelo chão do caminho
Só o amor permanece tal núcleo de uma força imperiosa
Que cada um de nós aspira para sentir que está vivendo
Para esconder meio ao poema uma ou outra linha serena
Sútil como o voo da ave, tão breve como a voz da amada
Nessa arquitetura da palavra, sob o véu de tantas noites
Venço abismos, cavalgo enigmas, vou ressurgir em branco
Como a folha sem pauta que guardou meu fogo primitivo