Poemas : 

DELÍRIOS SANFONADOS

 
A lua está escura.
Gatos gemem e miam
Num cio apoteótico.

As estrelas não piscam,
Pois se esconderam trêmulas,
Receosas do labirinto noturno.

O silêncio traduz uma balbúrdia
Que fere a acústica dos tímpanos,
Malogrados pela solidão desértica.

Cães uivam espavoridos de medo...
Mortalhas cruzam os céus vazios
Espanando a dor fictícia dos ares.

Vozes abafadas oram Ave-Marias.
Os ventos proclamam tempestade.
As árvores dançam surripiadas.

E a morte advém meio sonâmbula
A cutucar corpos macerados de frio
Que tecem nas canções funestas

O calor da vida. E o sopro encobre
A devassidão da existência soturna
À espera nociva de um grito vão

Que faça no despertar da noite
O entalhe cíclico do bater cardíaco
Alucinado pelo estertor da liberdade!


DE Ivan de Oliveira Melo

 
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imelo10
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