A lua está escura.
Gatos gemem e miam
Num cio apoteótico.
As estrelas não piscam,
Pois se esconderam trêmulas,
Receosas do labirinto noturno.
O silêncio traduz uma balbúrdia
Que fere a acústica dos tímpanos,
Malogrados pela solidão desértica.
Cães uivam espavoridos de medo...
Mortalhas cruzam os céus vazios
Espanando a dor fictícia dos ares.
Vozes abafadas oram Ave-Marias.
Os ventos proclamam tempestade.
As árvores dançam surripiadas.
E a morte advém meio sonâmbula
A cutucar corpos macerados de frio
Que tecem nas canções funestas
O calor da vida. E o sopro encobre
A devassidão da existência soturna
À espera nociva de um grito vão
Que faça no despertar da noite
O entalhe cíclico do bater cardíaco
Alucinado pelo estertor da liberdade!
DE Ivan de Oliveira Melo