Tênues imagens respiram no ar rarefeito da minha memória
Que conspiram silenciosamente a parecer que de fato as vejo
Não como miragens ou ficções que são, mas reais e presentes
Tudo acontece categoricamente contra uma nova distância
De seres que nunca estiveram presentes, todavia são um só
No outro lado da rua as pessoas transitam, inscientes a tudo
Na gare da imaginação o trem já embarcou seus passageiros
Os trilhos dessa estrada de ferro seguem a direção dos olhos
Fixos no sonho adiante, mansos, perdidos na distância azul
Todos os viajantes cada um sentado no seu lugar, soa o apito
A música toca suave nos vagões preenchendo-os de nostalgia
As horas impulsionam, discretas, os ponteiros de meu relógio
E a lua, completando o cenário, traça seu arco no céu noturno
Brancas nuvens leves que imitam ovelhas sob a prata do luar
As frases que nunca foram ditas amordaçam minha coragem
Desembarco na estação da desesperança com todas as malas
Meu trem segue deixando um rastro de fumaça branca no ar
Minhas imagens e miragens se vão com ele sem dar um aceno
Aos poucos calam no silêncio dessa plataforma sempre vazia
Quantos trens haverão de partir até ter meu coração de volta
Prendo a respiração e as lágrimas. A sina do poeta é ser assim.