Como um sopro leve que me veste o corpo na cálida manhã, sinto o sussurro da brisa matinal, como a lucidez que me veste o pensamento, fecho os olhos e inspiro, como quem sente o crepitar do fogo arder qualquer réstia de desassossego.
Sinto-me como quem sente o perfume de um campo de margaridas e ficasse ali a contemplar a dança das flores, num desabotoar desordenado por fora mas alinhado por dentro, numa coreografia lenta, e solto a respiração serena que me inunda os pulmões, inalando o perfume do jardim num abraço à vida, com sentido.
Deixo escapar um sorriso por entre os lábios, com o olhar, percorro a alameda do meu caminho, e sinto em vertigem a paz envolver- me em braços suaves, como se o seu toque fosse uma melodia de reverência e cuidado.
Pinto no peito as vontades com as cores do arco- íris e bordo a ternura como quando se veste a alma com a inocência do amor na excelência.
Ouço vozes e melodias que entranham, como se o eco se fundisse num sopro arrepiante e sinto as lágrimas na mesma voz que se desdobra em gestos de sintonia.
Piso agora terreno celestial e há sensações inebriantes que agasalham os sentidos e beijam-me os pés como se levitasse e sentisse os teus braços ao meu redor.
Abro os olhos do meu espírito para te ver e sinto o coração bater descompassadamente, toco o teu rosto com a ponta dos meus dedos incrédulos, e sorris-me com a mesma alegria que nos inunda os dias, sinto-te agora dentro
do nosso abraço e como se o tempo parasse eternizamos o momento.
Para não te perder de vista, fecho os olhos e inalo o perfume que inunda o lugar
e o mistério cresce, como cresce o nosso amor, a nossa alegria, tocas o meu rosto e murmuras o meu nome como quando se pronuncia um código secreto e acendem-se em mim todas as certezas, e uma euforia guardada no tempo toma- me como quando nos toma o êxtase na entrega.
Dou mais uma volta na cama, abro os olhos e sorrio, com a sensação plena de que mesmo tendo tu partido, estás sempre comigo e ainda te sonho e guardo.
(Alice Vaz de Barros)
Alice Vaz De Barros