Trago um sorriso para colocar nos teus lábios
Rasgo no horizonte as noites vestidas de palavras vivas,
são palavras com seiva, mastigo-as e sinto-lhes o néctar
escorrer-me pela garganta.
São como ventre acesso, no peito aberto à descoberta.
Sobre o olhar acima do promontório, levanto os ombros
e numa odisseia, escrevo uma carta aberta nas sombras
brancas das paredes cinza da noite.
As sombras tocam-me, existe vida para além delas,
há sorrisos a espreitar e Luz no movimento das sombras.
As noites são indecifráveis e os sonhos também,
e há anjos a morar nos sonhos, como se abrissem
todas as portas fechadas.
As noites sacodem o pó das estrelas, para acordar
as madrugadas, e há sorrisos no jardim da noite coberto
pelo orvalho, e há vozes a cantar a melodia
dos bem-aventurados sob o olhar inebriado do rosto
das flores.
Há neste lugar sentidos em arrepio, doçura em alvoroço,
e uma gota de mel a cair dos teus lábios, a jorrar
dentro de ti, o néctar da plenitude da existência.
Neste lugar celestial há uma gota de excelência,
prestes a transbordar um céu aberto de cores,
para pincelar ressurreição na tela abstrata da tua vida.
(Alice Vaz de Barros)
Alice Vaz De Barros