Porque por vezes me dás essa sensação de abandono, que te falta?
Sei eu não espelho a perfeição, nem perto disso, nem o que espero
Eu queria aprender a velejar nas tuas leis, mas não te compreendo
É sempre esse silêncio em que só tu que falas, mas não me escutas
Permaneces distante mesmo presente, chegas no corpo não a alma
Mesmo que eu me reparta em tantos não me entendes em nenhum
Tenho um pomar nos meus versos, delicados tal o pêssego maduro
Intensos qual o rubro das amoras, doces como as cerejas que colhi
Por vezes, reconheço, azedos qual o maracujá e ainda são só teus
Mas é a tua ausência o caderno onde escrevo os poemas noturnos
Enquanto as flores fecham suas pétalas e reservam seus perfumes
Nessa longa espera, até que um novo dia e outra espera amanheça
Cada manhã eu renasço na esperança que ao chegar venhas a mim
Pois a paixão mora em mim, bem fundo em meu coração alucinado
Dessa minha adolescência tardia, que fiz só para estar ao teu lado
Descansa esse lado pedra, que te quero flor, para regar não colher
Tira das costas o peso de ficar em guarda, eu me inventei só prá ti
Depois vem, que tenho fome de amor, corpo e alma, vamos brincar
Correr pelas campinas, de mãos dadas, deitar na relva e apenas rir
Seguir pelo rio, rumo ao mar onde, enfim, eu possa morrer de amar