A mala comigo vem,
para todo lado a mala
junto ao meu pulso
presa, leve.
A mala, com o teu nome:
palavra, grito inscrito, gravado, impresso
no alfabeto antigo do livro
que traz a mala consigo.
a mala nos sonhos, nos passos, no começo,
até ao fim, a mala: presente
sem fecho, aberta, escura, dura, de pele.
A mala
até ao infinito das coisas.
A mala fantasma, biblioteca que visito,
em que vasculho, tiro e ponho, guardo.
A mala comigo é a mala,
vê-se,
exibo-a, exibe-se, ganha cão.
Estranha trela este meu braço,
de pelo como a mala,
perene como a mala,
útil como a mala,
eu usá-la como
a mala.
A mala sempre...
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
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