#CORRILHO
Bebendo do orvalho fresco da madrugada...
Do cogumelo à gotejar...
Na clareira de elfos...
Minha alma ali está...
O deus corvo a tudo observa...
Sob a prata no céu que fragela...
Confrontando nu o abismo...
Em frenesi danço enquanto clamo...
Ao deus corno invoco, chamo...
A clareira então ilumina-se...
Estrelas descem do céu...
A fogueira mais brilha...
Descortinando o estranho véu...
Sim...
Sou indomável pois não caibo no mundo...
Faço os anjos caírem de amor...
Faco os demônios desejarem com ardor...
Os mortais temem o corrilho...
Ignorantes vêem terror...
Movendo-se abertamente...
Às vezes outras silenciosamente...
O caminho é secreto...
A direção, desconhecida...
Tal qual peçonha...
Em uma vegetação rasteira...
Trago a verdade esquecida...
Numa aventura fantástica, quase onírica...
Pernas se entrelaçam...
Braços transformam-se em serpentes...
Das profundezas às alturas subo...
Rodopiando na abóbada vertente...
A taça transborda de vinho e passo adiante...
Abrindo os sentidos...
Na áurea névoa presente...
A grande arte enfim ensina...
Nas sombras vestir-se de luz...
A fera não é domesticada...
Não é para qualquer pessoa...
Essa jornada...
E como tal conhecimento que a tantos seduz...
Vem de berço, para os eleitos...
Eras de tradição se afunilam entre as unhas...
Folhas tratadas aos pés do salgueiro...
O fogo não é temido...
Arde no peito incensante...
E lá se vai o tempo...
A eternidade é só um instante...
Justificando que todo destino é traçado...
Não explico o porquê de cada sina...
Uns levam a vida como um fardo...
Tateiam as incertezas como um cego...
Assim ninguém compreende nada...
Que a vida é um doce mistério...
Enfim eu lhe desejo não parar tão cedo...
Pois toda idade tem seu prazer e seu medo...
Não tenho aquelas velhas histórias para contar...
Mas tenho a cumplicidade para recordar em tão pouco tempo...
Sandro Paschoal Nogueira
Conservatória - Caminhos de um poeta