Tecem a vida
linhas que ligam
o corpo à alma.
Pousam pássaros
nas folhas secas
soltas no chão.
Inverno
deixo as portas sempre fechadas
e espero luares além das janelas.
Apaga-se
a saudade
nos olhos
secos livres
de mágoas.
Filhas do Sol
Na Ponta
dos Seixos
vivem
almas
filhas
do sol.
Rua do Porto
Comprei
sandálias
de prata,
argolas
de ouro
e vestidos
de baile.
Espero-te.
Na rua do porto
desvio desejos
com fios do sol.
Não louvo
as fogueiras
perto da palha
do arrozal.
Preparo um poema
longe de espelhos
(sereias adormecem).
Doidas palavras
O amor
silencia
sangra
lágrimas.
navegam
palavras
azuladas
no lago.
Viagem
Cansada de esperas
desfio bordados
com fios de ouro.
Atravesso as pontes do tempo.
Celebro as cores da vida inteira.
O amor é água
e silêncio antes
do sol.
Estrelas ouvem
o estalo das folhas
na língua áspera
dos morcegos e
caracóis.
Descasco
maçãs espero
à mesa a flor
das romãs.
O caderno azul
Quero reviver a manhã.
Aquela do mês de agosto
quando meu rosto
colava-se ao teu.
Quero a literatura mais pomposa,
a voz mansa a desenhar palavras
nas cores da tarde volumosa.
Longe havia o perfume no verde
das folhas caídas nas margens.
Quero a arquitetura do poema,
retocada na fotografia do amor,
e nas paisagens pintadas
num caderno azul.
Toalhas
O silêncio iluminava a sala.
Renascem palavras rabiscadas
com lápisve canetas furtadas.
Desenho o autoretrato.
no eco da poesa alucinada
fotografada dentro da alma.
Esquecemos mágoas
entre paredes e toalhas
rendadas.
Viola e flauta
Ouço o estalo das folhas na rua.
No apartamento,
ensaio um solo
de viola e flauta.
Orquídeas
iluminam a sala.
Toco um samba
de Noel.
A tarde
engole
o sol.
Caem na mesa
talheres, pratos,
xícaras e pranto.
No Saara
enquanto
te espero
palavras
voam
escolhem assim
um tanto de tempo
na aurora boreal
encantam-se
espalham-se
na areia
suam
debaixo
do sol.
Desumano
é desumano
não te amar
agora
dançam
coqueiros
no litoral.
Em Pernambuco
engulo bagaços,
caroços e sucos
e vou-me
embora
sem custo
sem susto
na bagagem.
Leitura
Para ler sentimentos
é necessário saber
a intensidade da luz.
Percebo os dias
na influência dos
sonhos que não
lembro mais.
No meio do nada
O amor
descreve
um beijo
no meio
do nada
afoga-se
no espaço
no abraço
numa pausa
solto risos
num canto
dos olhos.
desço um rio
sem mágoa.
Fios do sol
soam poemas ma calma das manhãs.
descrevem nuvens, pintam paisagens.
moças felizes
bordam vestidos
ao sol.
poetas
deslizam nas águas.
desviam o medo de amores.
tocam tambores, dançam na chuva,
contam nos dedos a hora das flores.
Pássaro Molhado
O pássaro molhado
não sabe do ritmo,
nem do cheiro
da chuva.
Finge tristeza
entre folhas
e galhos
espera o vento
no som do sol.
Pássaro
molhado
espera
calado.
Mágoas
Fizesse chuva ou sol,
tiravam as máscaras.
Domavam os dias,
douravam a tarde.
O tempo mudou.
Uma chuva fina
regava as flores...
Relâmpagos
riscavam
o chão
azulavam
as pedras.
Ainda existe
reflexos de tudo
na transparência
das mágoas.
Paisagens
A alma na paisagem.
é ave, flores, rio e lago.
Ouve o silêncio
das árvores.
Atravessa montanhas
e estrelas no desenho
dos mares.
Espelhos Molhados
Iluminam-se minhas faces.
Guardo estrelas e manhãs,
Perfumes de ontem,
sementes de romãs.
Folhas secas,
cristais e lágrimas
lembram e tecem o minuto final.
Árvores e pedras
descem ladeiras,
acordam no vento.
Deslizam poemas
nos quintais.
Na sombra
das imagens
são reflexos
de espelhos
molhados.
(Anoiteço para sonhar-te).
Poemas em ondas deslizam nas águas.