Poemas : 

Sonata de fim de tarde

 
Um pássaro quis emoldurar-se pelo sol; lá ficou por alguns segundos a se fazer tatuagem... depois fugiu em queda livre, para se embrenhar em folhagens.

A tocha vermelha, por mais alguns segundos, agarrou-se no céu, até cair sem forças para o abismo de onde nascem os dias. Estremeci ao presenciar o desmaio como se minha alma também tivesse esmaecido... mas não! Fez questão de se manter forte permitindo que o silencio fizesse a revisão do que não foi acolhido para a sisudez do dia.
Lembrei da indumentária que não se perfilou séria como a ocasião exigia e da boca indiscreta revelando mais dentes do que devia, e, para deixar o dia um pouquinho enlouquecido, deixou escapar, sorrateiro pelos cantos, um canto afluente para se derramar como cachoeira.
Preparação de precipício para a noite escolher se irá mergulhar ou levitar e o que ela decidir estarei dentro, seja para acomodar ou vibrar como as cordas de um violino.




É meu corpo que escreve os meus poemas.
Minha alma é a sucursal da minha mão.
As palavras me buscam no silêncio.
Palavras são estrelas que reclamam
o papel branco: céu, constelação.

(Os Poemas - Lêdo Ivo)

 
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Amahnaiara
 
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