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O vento gelado
varria os grãos finos de areia.
Voavam em véus e se amontoavam,
soterrando o parco verde inativo,
ofuscando a visão.
O poeta estava lá, imóvel
aos pés das brancas dunas,
observando o vôo dos albatrozes.
Na boca; um gosto de maresia,
vindo da crespa maré da laguna.
Apenas um olhar desconfortável,
de um bêbado ao relento,
sem conseguir descongelar
a tristeza residente no coração.
Uma bela alma;
mas desgraçada,
sem recuperação,
tremulando fria ao sabor,
qual bandeira ao vento.
Alma... De nota perdida, final...
Fazia tempo que ela não mais
habitava aquele corpo,
ser de sol e sal.
Frio desafiante
do fio da navalha cortante,
inquietante sentir, calafrio,
lume morto, incessante mal.
O álcool ingerido
cortou o frio da boca,
fingiu agasalhar o corpo...
Ou o que restou dele;
um receptáculo inútil,
vazio de bem, e de mal.
O vento gelado;
e o vôo dos albatrozes
foi só um pretexto.