Sim. Eu já vi o mar um dia, com suas nuances esmeraldas e brancas espumas. Lembro também do grande céu pintado de anil, visitado por nuvens de algodão em correrias, e a noite; subitamente riscada pelos astros cadentes Da janela eu ao luar; acotovelado no avarandado, ao estrelado breu, namorava-te de longe sob a brisa fresca do verão. Minha visão não te perdia como apagada agora. Sorrio. Que bom que ainda tenho o seu perfume. Que bom!
Amávamos livres, campeando os prados, e os vales esverdeados, nosso mundo; era aonde o arco-íris nascia na terra, meus olhos a sua procura eram ágeis caleidoscópios, mas paralisavam-se ao tentar desvendar teu corpo. Tempos de risos, quando tuas cores eu as absorvia.
Germinou o amor em mim, quando vi teus cabelos balançarem a minha frente, negros, de intensos brilhos adornando o teu rosto, quais brilhos, que sei ainda têm os olhos teus. Quando teus lábios carmim beijavam os meus, um misto de pudor, receio e desejo, me invadia em silencio, emocionado, qual veneno delicioso inoculado.
Apaixonados, tudo envolvia cores, suores, e os dias não tinham fim. Mas urgiu o tempo, e com ele, a relevância das palavras, das verdades que não mais vejo e que se fazem presente;
mais tátil que visto, mais ouvido que visto, mais sentido que visto; descontroladamente... fácil, sem nada ficar perdido, nem aquele som colorido inserido puro na tua voz.
Mesmo com essa nebulosidade definitiva, o poema não perdeu a canção, a poesia ainda é um pássaro cantante, sei das suas melodias exóticas e mutantes, e que suas asas flanam maestrando os versos, beijam as flores, lembrando os amores.
Salvo o afeto que tenho por ti minha querida, e pelo olhar que tens por mim amor; perdão, perdão por quase teres que viver reclusa. Desde que meu mundo nublou, tu és o farol, meu norte, meu sul, meu leste e o ocaso. Tua boca me diz o que não mais vejo. Preciso dos teus olhos a enxergar por mim...
É tarde... Antes de deitar-se, amor; leia só mais este poema para mim.