Leio palavras escritas
na superficie de tudo.
Numa existência larga
folheio páginas cheias
de interrogações.
Me compreendes
quando deixo a luz
da sala acesa?
Leio teus gestos.
Desfolho o livro
que me abres.
Ouço murmúrios no ritmo de cada frase.
Decoro o que já sei. Tudo é sempre novo
quando abro as portas da casa.
Sem lembranças amargas,
digo não às tuas vontades.
Sobraram lágrimas
para regar as flores.
Sei das carícias
suspensas no ar.
Os minutos
não passam
prolongam-se
ausências.
Desarrumo
o quarto.
Guardo cortinas
rendadas compradas
na rua do luxo..
Tenho o olhar desfocado,
quando nada respondes.
Só respiro
e mais nada.
Tudo é tão prosaico
nessa alma antiga!
Pássaros e borboletas
voam sem rumores.
És a essência dos pecados inexplicáveis.
Nessa frase urgente, cabe um ponto final?
Recolho-me
sob a chuva
que desviei
dos meus dias.
Acreditas na felicidade partilhada?
[Como pudeste pensar desigual?]
Como é poderoso
o lado humano
das coisas!
Sempre o Poder.
Ah! O poder.
Ainda que eu pedisse
aos céus não te esqueceria.
Toda prece seria inútil.
Não desisto.
Alimentam-me
os frutos
na tua presença distante.
O amanhecer
não chega.
Não compreendeste quando não fui
quem desejavas ser.
[Ah! este ser
em que não me reconheço.
Ébrio das noites aquecidas
em oração].
Nunca antes
nunca depois.
Não choro.
Apenas escrevo
e rasgo a alma.
Encolhestes
os ombros.
Negavas, fingias, calavas dentro
e fora de mim.
Abrem-se as portas
no princípio de tudo.
Na hora mágica,
leio olhares,
objetos e a velha fórmula
do eu sei
que sabes
e pronto.
Deixo a porta aberta
no princípio (todo)
interessante.
Apontas o dedo, acusas, choras, lamentas.
Voltas às costas
cada vez que
te chamo.
Amei tanto!
Construimos palácios.
Não fostes príncipe
nem Rei.
Poemas em ondas deslizam nas águas.