Como poderia competir com as flores dos teus pretendentes
Com os seus beijos de veludo
E com os seus versos açucarados.
Não tenho palavras doces para te conquistar
Presentes para te oferecer
Nem dinheiro para te levar ao restaurante
Para durante um jantar romântico
À luz tremula da minha voz em chamas
Dizer que te amo
E isto é apenas a ilusão da minha inocência
Presa a estes versos que não vais ler
Pois no teu coração mora uma primavera campestre
Sem estação nos meus versos rudes e toscos
E os teus olhos não estão habituados a tanto cinzento
À cor das minhas construções citadinas
Que parecem arruamentos complexos
Com bancos de pedra voltados para jardins de cimento
Onde raramente te sentas
Com medo de perder a fantasia no olhar
Mas se viesses mais vezes
Irias aprender a ler a minha paisagem
A simplicidade com que transforma tudo em natureza
E sentirias essa simplicidade como amplexo
E que ela existe dentro de todos os homens
Camuflada por casas cinzentas
Com antenas de muitas cores a despontar dos telhados
Que mais parecem poemas de amor.
Se percorreres mais vezes o meu pensamento
Irás aprender a ler a paisagem
A descodificar os meus versos toscos e rudes
E quando levantares o véu que encobre esta realidade
Encontrarás a simplicidade no sentimento
Amor.
Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.