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Ah tão bom lembrar em versos
daqueles quentes verões,
dos teus olhos azuis de mar;
olhares ensolarados, vivificados,
persistentes e rejuvenescedores.
Bendita seja minha memória...
O fulgor das luzes da manhã
perpassava teus cabelos
esvoaçantes; ouro ao vento,
igual que fustigava as velas
que tu meu amor via passar.
Um querer que ainda é...
Intento uno do prazer;
rever imagens imutáveis
armazenadas na memória
- vidrilhos de calidoscópio -
lembrança crua resgatada
no antigo álbum de fotos
de bordas serrilhadas e amareladas.
Nas páginas do seu diário,
momentos lindos descritos
numa caligrafia meticulosa e bela;
irradiando brilhos ofuscantes,
perfumados e preservados
nos frutos, na espontaneidade
das raras belezas outonais.
Assistia-se nas frescas tardes
as danças das folhas caindo ao destino.
Os ramos das folhagens tenras
resistindo em leveza e harmonia,
assim servidos para outras alegrias.
Breve brisa batendo no rosto,
soprando em cores e cheiros,
fazendo com que o tempo
parecesse parar no espaço....
os jardins permanecem floridos.
as árvores não mais frutificam;
fica o olhar nos frutos amadurecendo
olores impregnando em lufadas;
não mais o vento frio que desalinha
os ralos fios de prata do tempo.
Novamente é verão, revitalizando
os rumos, os horizontes traçados
lento epílogo e único querer;
mais um passo com qualidade de vida
enquanto houver um sol que brilhe
trazendo o abraço solidário, a mão amiga,
o calor que dispensa luvas, gorro e meias de lã.
Espera-se apenas conforto nas palavras,
o reconhecimento desses talentos
aquecidos que se afloram na maturidade.
Por fim, o aceno da mão trêmula, decidida,
o sorriso de alegria por ter feito da vida
uma poesia.