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Nature boy

 
Deitado no escuro, reflito sobre a vida. Hoje foi um dia longo e ainda não acabou. Meu gato dorme em cima do cobertor e eu encosto meus pés no seu corpo quentinho. Ele parece um anjinho dormindo. Me encho de amor. Por um momento, me esqueço das minhas aflições e só quero parar o tempo. Hoje tomei a primeira dose da vacina que pode me salvar. Eu nem sabia ao certo se queria ser salvo. As vezes, eu sinto que preciso dar continuidade às coisas. Talvez seja só por isso que eu ainda esteja vivo. Mas quando foi que eu parei de sentir tesão? Parece que tudo é tão desfavorável. Meu gato se chama Zelda. Até pouco tempo atrás eu achava que era fêmea, então dei o nome da protagonista de uma franquia de jogos que sou fã. Nome de princesa. Agora, eu tenho que fingir que nao sei que é macho para minha mãe não implicar com o nome do qual eu já me acostumei (e não pretendo mudar). Antigamente, eu escrevia mais, sabe. De uma maneira enigmática, difícil e quase inteligível. Mas eu tinha tanto orgulho das coisas que escrevia. Tinha tanta referência, tanto entusiasmo, tanta paixão... Hoje eu me sinto medíocre e envergonhado. Me sinto comum e descartável. De certa maneira, isso me conforta. Sinto menos peso e me cobro menos. Mas sinto falta do tesão. Da loucura da juventude destemida. Do entusiasmo pela busca por conhecimento e da coragem de me arriscar. Eu me acomodei nessa rotina pacata e sem ambição. Mas é que está tão confortável aqui nessa posição. Meu gato continua dormindo. Eu espero que durante a madrugada ele não acorde porque ele tem muita energia. Será que ele também sonha? Será que quando ele for mais velho, ele vai ser covarde e passivo como eu? Será esse o rumo natural de cada ser vivo?


Joe.

 
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JoeWeirdo
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Enviado por Tópico
silva.d.c
Publicado: 12/06/2021 01:50  Atualizado: 12/06/2021 01:52
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 Re: Nature boy
"Será que quando ele for mais velho, ele vai ser covarde e passivo como eu? Será esse o rumo natural de cada ser vivo?"

Olá Joe, penso que não, não o gato com a sua personalidade vincada e irredutível, jamais se conformará com o que seja, quanto ao ser humano também penso que não seja seu o rumo natural tornar-se covarde, passivo e comodista, sinceramente penso que não, penso que não é natural em nenhum ser vivo. Somos sim levados a isso, somos condicionados a aceitar, a pedir até, orientação, proteção, ajuda, desde crianças, quando entramos na escola, que tudo o que nos é ensinado é com o propósito de incutir um sentimento de obediência à autoridade, no imediato ao professor, somos formatados a não questionar a autoridade, somos ensinados a ler e repetir, somos inibidos de raciocinar e penalizados quando o fazemos, apenas somos avaliados pela capacidade de repetir o que nos colocam á frente, o que está estabelecido como conteúdo escolar. Toda a nossa experiência académica contribui para as limitações futuras da nossa realidade, na capacidade de utilizar o nosso raciocínio lógico, de acordo com a nossa natureza, para fazer face aos desafios da vida. Perdemos a chama, e esperamos que alguém nos ilumine o caminho. E muito mais acerca havia a dizer, mas está tarde. O caminho passa por isso mesmo que escreveste, uma introspecção analítica, a identificação do problema, e depois, ganhar a coragem e a determinação para o eliminar. Abraços

Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 12/06/2021 03:04  Atualizado: 12/06/2021 03:04
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Mensagens: 2241
 Re: Nature boy
Caro Joe,
Não nos conhecemos mas tomo a liberdade de iniciar assim, e com suas escusas, aos 66 anos ficou fácil tomar uma série de liberdades.
Se me permite começar pelo Zelda, tenho certeza que ele não faz gosto que lhe troque o nome, não. Fazes bem que não o mudes... Tenho um casal de amigos chamados Darcy e cada um é o que é: ele ruidoso, com porte de lenhador lê dois livros por semana e gentil como uma moça; ela quase muda, de olhos inquisitivos e lutadora de krav-maga, a própria sinfonia da destruição... Logo o nome, lhes pertence, não eles ao nome e o Zelda também pode ver assim.
Se gostavas de escrever, faze-lo, a menos que o gosto tenha passado, o teu texto segreda que não.
A covardia não é uma doença. antes uma escolha pelo menor sofrimento e é licito escolher isso se assim te apraz.
A mim não. Creio que ao nascer contaminei-me com o vírus da rebeldia, que veio se multiplicando até hoje: foram as pistas de corrida, depois os rally, o bungee jumping, a motocross, o Rope Swing e hoje trouxe a público minhas poesias e faço Downhill de Bike para descer as escadarias da minha cidade (*).
Mas eu já me senti covarde e do alto da minha covardia decidi me aventurar e, quem sabe morrer de medo. Falei demais. Abraço.