Enviado por | Tópico |
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Esqueci | Publicado: 12/06/2021 21:57 Atualizado: 12/06/2021 21:57 |
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Re: Como estás?
Espero que cure essa ferida de amor, e encontre lágrimas sinceras.
Gosto de ler os seus poemas. Bom fim de semana Abraço |
Enviado por | Tópico |
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Rogério Beça | Publicado: 01/06/2022 09:09 Atualizado: 01/06/2022 09:25 |
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Re: Como estás?
O meu amor diz-me que a palavra amor em poesia tem pouca poesia. Vive gasta e enjoa até à erosão.
Eu sigo o seu catecismo, como fiel cordeiro sem guizo, nem badalo. Eu, um cão-pastor, ou pastor-sem-cão. Ou, talvez, capim. Quererá ela, ou eu, acabar com os poemas de amor? Acho que o teu poema dá resposta à pergunta que acabei de fazer, e demonstra o que o meu amor quer com isso dizer. O amor é tema de conversa, pode caber em todos os dicionários, ser mote de vários romances de cordel, e sem corda avançar por toda a prosa imaginável. No poema, não. Ou, não num poema em que o enjoo da palavra não a limite. A tua primeira estrofe é um assombro. Tem fantasmas dentro dela, mortos que regressam, na dor e no pensamento, hologramas, espectros. Quando o “quando...” chega e o “...cheguei-te...” o acompanha, aparece esse amor ímpar no ar, que abdica das quatro letras. “quando cheguei-te...” já o diz, e segundo o meu amor, não fá-lo-à tão melhor? Depois, os três versos seguintes surgem, num soco enfiado algures num amargor que dilacera. Mas a metáfora da “...porta...” não fecha a esperança. Mas este “...não abria...” não surge como bom prenúncio. Da estrofe seguinte, chamou-me a atenção para a palavra “...dúzia...” que, sendo doze por sinónimo, tem o “...dúz-ia...” e este ia não se sabe se vai. Como o “...abria...” acompanhado do não. É como se fosse um advérbio de quantidade no pretérito imperfeito, em vez de só um algarismo. Já tentei escrever um poema com a “dúzia”, mas nada saiu, muito menos doze. A referência à “...dúzia de chaves...” já dispensava a “...esperança...”, mas aparece, talvez, um pleonasmo escondido. O verso maior deste poema surge num jogo de palavras descabido, que prima pela beleza, isto é de escritor, de poeta, cito: “...interessei-me pelo forro do teu olhar...” O interesse era mais do que notório até então, mas a razão desse interesse é profunda, é metafísica, é das qualidades humanas, mais do que de uma aparência que todos vamos a concluir que, depois dos 40, vai à vida dela para os jovens de corpo. Há muito a dizer sobre olhares, para além destas linhas que decidi escrever. Olhar é muito menos do que ver. Ver obriga ao processamento do olhar. O olhar é feito com os olhos (as tais janelas da alma). Captamos a luz através da pupila para o nervo óptico, que as transforma em algo que o cérebro define por imagem. Entre ver e observar existem, depois, graus distintos de intensidade. Dependendo de como se olha podemos ver belo e\ou feio. Mais claro do que outros, ou mais escuro. O “...forro...”, neste contexto, é uma palavra achada muito feliz. Dou-te mesmo os parabéns, pois é de uma invulgaridade agradável para determinar interior. O forro não tem necessariamente de ter bom ar. É sobretudo funcional. Geralmente a sua função é aquecer. A "função do dentro" pode ser o significado de “...forro...”. Quando o “...forro do olhar...” interessa, ou é interessante, é um problema para quem se depara com tal interesse. É como a voz de um cantor de 70 anos parecer ter 20 e emocionar. O penúltimo monóstico está cheio de intriga e beleza. As “...lágrima antigas...” não vertida, “...que esperam...”, têm máguas com u. O interesse já mencionado tem um ponto alto no último verso, que dá nome ao título. Quantas vezes já não perguntámos aos nossos a mesma frase na segunda pessoa do singular? Tudo sem um único amor, certo? Um dos favoritos é meu, desde o primeiro instante... |