Enquanto lia jardins
Plantados de lilases,
Falava com um passarinho perdido no tempo,
Contava-lhe
Que aqui habitavam pessoas
Que pela terra lutaram
Como se não houvesse amanhã,
A vida era dura,
E o seu todo era a terra,
Mesmo que a terra não lhes servisse
Para nada, acreditavam nela, cuidavam dela
E até a inundavam de água e adubo
Com medo que ela não produzisse ou ficasse zangada.
Assustavam Saltimbancos,
Imploravam aquela terra a Deus
Como se fosse única e santa.
A terra foi sacrificada por décadas,
Vieram intrusos sem nome,
Foi insultada por gentes,
E massacrada.
A terra foi ficando no mesmo sítio
Como qualquer terra.
A terra contava ao passarinho que já estava velha e cansada para sair dali, gostava de ter viajado, dali não via o céu, pois estava tudo tapado. Na estufa onde vivia, tinha muito calor e amor, amor até demais.
Mas de lá agora não via o céu, nem as primaveras, apenas contava a sua história ao passarinho, para que ele ficasse com ela para ele como sua herança.