A noite guarda o silêncio, que a sabedoria diz que é ouro
Antes era o tumulto falaz, o clamor de vozes à luz do dia
À noite vem a imagem liberta do espelho, desfaz a solidão
Que vive atada nos cordões do real, tão distante do sonho
Do abrigo onde o pássaro pode recolher as asas exaustas
O vulto negro, no espaço interior, vem alheio ao marcador
Das horas e se revela a mulher de outros tempos, saudade
Tudo então se refaz nas trevas condensado pelos sentidos
Os seios antes fartos, ora um arremedo, negação e sombra
Os olhos esmeralda de serpente, boca vermelha de desejo
Réguas e lápis não darão as dimensões de sua ida realidade
Nem a grandeza que um dia ela teve no palco de minha vida
Dessa forma fugaz que teima emergir uma história passada
Mas foi pontuada de abismos e silêncios, de tantas arestas
Não! Foste apenas o momento, a semente que não germinou
Requeiro de meu íntimo um momento de reflexão e me digo:
Non est anima, est illud quod non esset melius absentia tua*
![Open in new window](https://www.luso-poemas.net/uploads/img60ad01b789ba2.jpg)
(*) Não se iluda alma, a ausência (dela) foi o melhor para ti
"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)