Abre-se o jornal na banca de revista da esquina
E nem precisava
Porque já está divulgada nas redes sociais
O discurso do Presidente.
Em tom de conciliação
Tenta oferecer uma alternativa para o povo em polvorosa
Desconfiados dos novos decretos
Que ele não abre mão de estabelecer.
Querem o veto
Ao projeto de legalização do aborto
E são contra as manobras para aprovação
Da lei do desarmamento.
Como um país como o nosso pode aceitar tal premissa?
A liberdade religiosa é ameaçada
E a censura toma conta dos meios de comunicação
Enquanto nossos artistas são expulsos
Por causa de suas canções.
Ouve-se dizer aos quatro cantos
Que uma nova era está chegando.
Escondido entre a multidão
Faca na mão
Está o próximo assassino do mundo
No ventre de uma jovem mãe
Germina a vida que não deveria nascer
A casca da serpente é vista entre as folhagens
E o medo toma conta de tudo que valeu a pena um dia.
Nas ruas misérias
Nas vitrines o pavor
Nas placas comerciais.
Areias cobrem os olhos de quem não mais consegue enxergar
Além de um palmo do nariz.
Nem adianta mais ouvir os gritos
Agora tão comum
Por todo lado que se olha.
E não pode se negar que um dia
Houve um sonho tão real.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense