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Espírito da letra
(Para eles)
Dialogar para quê,
Se podemos brincar no ringue
Dos xingamentos
Ou trocar umas porradas?
Paciência?
Prefiro as linhas tortas
De uma interpretação em fuga.
A realidade é uma idiossincrasia íntima.
Conhecimento?
Ora, já carrego o mundo nas costas e
Tropeço na exigente superfície
Das responsabilidades cotidianas.
Os livros não me divertem,
Páginas empilhadas,
Hieróglifos desenhados para me irritar.
Empatia?
Não troco de lugar com ninguém,
Cada um no seu ponto,
Exceto quando for uma emergência: Eu!
Solidariedade
É a pífia equação dos enfraquecidos,
Dos desvalidos,
Daqueles que não escolheram a si mesmo.
Amar?
De todas as propostas,
A mais ridícula e indecente.
Amar o quê? Amar a quem? Para quê?
Desconfio desse erro de grafia:
Ao mar.
Ao mar com os diálogos, com a paciência,
Ao mar com o saber, com os livros,
Ao mar com a empatia, a solidariedade...
Ao mar, desgraçado, com tuas labaredas
Tão cheias de esperança e vida e alegria.
Meu verbo é o da tristeza e do ódio,
É o do conluio com as sombras espessas
Da ignorância e do atrevimento.
O odor convincente da cadaverina e da putrescina
É o perfume que mais
Provoca em mim esse êxtase de vida.
Amar?
Palavra que singra o mar daqueles
Que perderam o rumo de si mesmo
Mas, eu, estou em terra firme,
Abaixo, à sete palmos da superfície.
Milton Filho...