As palavras baralham-me os sentidos e tropeço sem cair.
Num precário equilibrio reconheço a minha loucura nos outros e corro-me a pontapé. Ressentido e desensibilizado procuro razões e motivos sabendo que esses nada vale, mas justificando o próximo acabo sempre mais que justificado.
Procurando covardemente esconder as minhas nódoas por debaixo duma camisa emprestada entro no recinto sagrado e penso no Nada.
Sentido somente é que eu estou bem. Na mais perfeita apatia budista eu encontro-me comigo e num devaneio narcisista bailo sem par num mar de jasmins. As borboletas atraidas por côr sem cheiro julgam-me um manancial dos deuses.
Na ânsia de fugir mais atraente me torno e vencido pelo cansaço sento-me para não pensar. Enquanto o diabo esfregava um joelho as borboletas começavam a tentar sugar algo que nunca lá esteve.
Em breves milhares de delicadas linguas me acariciam ansiosas enquanto sorrio consolado mas algo indiferente.
Adormeço suavemente e acordo mais suave ainda, os olhos dizem coisas que a mente recusa e pareço sonhar. As aladas criaturas parecem aguardar o meu regresso dos braços da morfina quando isso era tudo o que eu não queria.
Não podendo mais recusar aquilo que me é vendido pelos sentidos aceito a minha sorte. Esticando-me até ao infinito do esqueleto ordeno-me a agir.Despindo roupas que nunca foram minhas sinto-me mais eu que nunca. Mergulho em águas próximas enquanto á minha volta o paraíso existe. Lavo-me de corpo e alma e com mãos lavadas apanho o Sol que sempre amei.
Deitado na rocha, e sem precisar de nada edificar, deixo as borboletas cobrirem-me,e de alma e coração puros, lhes sirvo de alimento.
A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.
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