DAS ASAS QUE ME VOEI
Quando cresci em altura, estatura de homem e coração feitio de flor se desbotando, contaram que o mundo era imenso, mais extenso que tudo o que havia e pouco visível depois que se perde o horizonte.
Disseram para observar que com cautela, os pés podem nos levar com segurança aos destinos já percorridos.
Eu que era cheio de ruas e afetos não visitados, intriguei-me.
Se tudo é tão repleto de amplitude, como haverei de agarrar-me a vida e habitar essa longínqua esperança, para saber-me andante de tardes que não conheço e de noites amanhecidas de claridade.
Interroguei-me tanto, que nem conseguia desacordar o desânimo das pernas, nem vestir-me com as roupagens da ousadia.
Deveria aceitar que só cabia-me reivindicar passos e trajetos com chegadas previsíveis.
Nesse tempo, me era tardio o vento, que se esgotava por baixo dos montes e perdia-se na planície.
O vento que a tudo varre, não leva o receio do desconhecido e às vezes traz as poeiras que embaraçam a vista.
Saía a esmo. Tentava colher certezas. Queria compreender o absoluto do tudo ou nada.
Apanhar as tochas de ventania e verter água na terra ressequida.
Ser o protagonista que sabe os finais não proscritos.
Tudo era de fato longínquo, para o além do perceber a frente.
Mas decide insistir-me, pois houve uma ponderação.
Se por acaso tivesse o êxito de me alçar para além do nevoeiro, encontraria um espaço ainda maior, após a condensação aquática das nuvens.
Nesse dia, diante de tanto desalento de nada poder desver. Enxerguei um pássaro.
Ele saiu da terra, cruzou o mar, planou nas alturas e no mais alto do alto que se via, arriscou-se a pousar num raio de luz imensa, recoberto em tons amarelados e ocres.
Espantados não sabiam como aquele pequeno ser havia chegado às proximidades do sol, mas houveram por bem adverti-lo, pois caso se fosse para mais além, certamente iria deparar-se com um movimento em expansão inalcançável, que nem de chão se fazia.
Diante de tantas e severas advertências. Tornei-me desde então, bebedor desta sabença.
Às vezes me empresto vôos. Vou-me indo, com a percepção de que posso lançar-me a descoberta.
Nunca sei o que virá depois que o passado do vento e o presente das nuvens se fundem.
Teimo em fingir-me capaz de atingir infinitudes, parir-me de acontecimentos.
Desde isso, quando posso, ponho-me asas estradeiras e olhares para o mais além do ver.
Carlos Daniel Dojja
*Imagem de enriquelopezgarre por Pixabay