Vejo colada à minha retina pastos cercados de arames e ferrugem
Pessoas como animais, frutos perseguidos, sem poder se locomover
Não mais se vive conforme as receitas, mas com o sacrifício alheio
Por todos os lugares grassam os subornos repassados sob as mesas
Tão poderosas quanto vazias de algum trabalho honesto sobre elas
O autoritarismo em exercício a iludir os incautos em favor próprio
Em distorção dos valores das vidas de operários agora sem salários
Legados a um severo abandono, sem poder levar pão para sua casa
Nada resiste a tanto desamor e o silêncio preenche espaços vazios
O pai de família sai de casa, na boca o gosto acre dessa despedida
Pois na volta, quiçá trará comida e se trouxer, sabe-se é tão pouco
Isso retumba em sua alma-ave combalida que voa sem plano de voo
Apenas submete seu corpo ao pó escuro das fuligens do cotidiano
Em casa a infância das crianças se esvai, órfãos de qualquer lirismo
Nos varais, parcas alvas roupas são bandeiras hasteadas a pedir paz
Não compreendo os dias subtraídos da vida de meus conterrâneos
Nem porque capitulamos sem luta. Onde será desistimos da honra?
Porque nos rendemos a esses políticos que nos coagem conforme suas conveniências sem qualquer plano ou estudo para minimizar a dor da fome ou a dor da morte?
Quando desistimos de ser pessoas para sermos ovelhas, balindo inocentes a caminho do matadouro?
Porque deixamos esse canalhas e seus projetos de poder destruir nossas vidas e seguimos calados?