O sonho propõe as obscuras estórias da consciência
Que vai navegando nas ocultas dimensões sonhadas
Renovado pelo oblívio que traz a luz de cada manhã
O sonho vem das encantadas linhas das constelações
Abre espaços no cerne fugidio do que se acha ser real
Nutre-se da própria negação na cor da flama primeva
Nele o outono chega inaugurando tempos de bronze
Transmutando por brandura os espectros da agonia
Para seguir embriagado a linha prata do arco da lua
Um pássaro a cantar comemora a colheita da cevada
Um homem celebra no vinho astúcias e esplendores
O poeta remove da alma os soluços não consolados
Enfim o verão se foi, mas não seu rubor, seu ar febril
Deixou ainda nas nuvens da tarde vergéis de trovão
Como um tropel a anunciar que a noite se aproxima
Pensamentos marcham nos pátios desertos da mente
Por arcadas solitárias busca o amor ávido encontrar
Seu lugar e frutos, acolá dos muros, livre de grilhões
Quase a terminar o sonho, eis que afinal surges, nua
Nada a ocultar o corpo esguio, doce flor de tentação
Vejo diante de meus olhos um quê infindo de desejo
No meu sonho, te empresto das flores seus perfumes
Do vento imitamos seus movimentos em nosso galope
Ao fim do amor nos legamos sentir o reverso do tempo
Percebo teu calor ao meu lado nesse sentimento vivo
de meus pássaros selvagens terem habitado teu corpo
Insensível a tudo, o dia reclama, é a hora de despertar
O regato murmura, nas estradas margeadas de árvores
Tem um rumor de infância, eis afinal o que deixamos:
A inocência rasa, na descoberta do amor enfim revelado