Nas tuas mãos, nos teus dedos
Em que não paro de pensar,
Agarro a luz,
Largo os enredos
Que confundi por cegar.
Bebo o vinho do pecado
Traço o véu da sepultura
Para partimos os dois daqui,
Presos a versos de ternura
O amor é o calvário
Desta morte já sem cura.
Dos retalhos fatos feitos
Rasgados pela desventura
Queira Deus nos vigiar
Se trocarmos de sapatos
No meio das nossas loucuras.
Acho que maior dos nossos erros
Foi fugir por tanto amar,
Caranguejando a ternura.
Por isso,
De pobres já não passamos,
Vamos fugir para amar
Que somos feitos de amor.
Descalços
Renascer deste rio o mar
Nas pérolas da noite escura.