Neste papel, a derradeira testemunha do que remanesce de esperança
Na calada da fria e silente madrugada minha pena arranha inclemente
Estes versos de memórias distantes cortantes como o vento do inverno
A contar recordações de um sonho de amor que se perdeu no cotidiano
Os dolorosos ecos de palavras impronunciadas mas ouvidas e repetidas
Levam a fantasmagóricas crenças irreais e remates eivados de equívocos
Há quem sonhe para amenizar as rudes agruras de uma realidade cruel
Mas tu sonhas a fazer o cinza do real em negras e dilaceradas cicatrizes
Ao te julgares sempre certa, não me aceitas e nem enxergas como eu sou
Me recriastes com virtudes que não possuo e ignoras as que são minhas
Por esperares inutilmente aquilo que não é de mim, me julgastes tão mal
A Narciso não é belo o que não é espelho, me mataste um pouco cada dia
E a morte veio e me tocou, duas, três vezes e a ela resisti crendo era por ti
Hoje sei que vencer tal batalha foi perda maior do que teria sido a derrota
E eu que te achava tão linda como um dia de sol quando singela tu sorrias
Era o que queria para ti, um jardim de sorrisos numa manhã de primavera
Se não me quer como sou não me olhas, por não me veres não me conheces,
por não me conheceres vens a me julgar mal, quando me julgas sendo o juiz
e o acusador não tenho defesa e só resta ao fim, a mágoa e a desilusão.