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O camafeu do destino

 
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Vasculhava o porão da casa da minha avó, em densa escuridão, como o breu iluminado apenas por uma velha lanterna cujas pilhas, certamente, logo iriam acabar. Então, percebo um brilho cintilante que reflete a luz fraca com intensidade. Caminho até o objeto e percebo que se trata de uma joia, um cordão, do qual pendia um antigo camafeu.

Resgatei a joia de seu esconderijo e busquei informações sobre a história de tal achado e o motivo do seu esquecimento naquele porão empoeirado. A pessoa certa para esclarecer tal mistério era, sem dúvida, a minha avó, com ótima memória, apesar dos seus 98 anos declarados, mas não assumidos, e que gostava de contar histórias das lembranças de outros tempos, que eu adorava ouvir, quando era criança.

Quando ela viu a joia, seus olhos ficaram marejados e, então, começou a relatar uma história de encontros e desencontros e de paixões intensas, que vou contar para vocês.

Ela estava com 28 anos, nos idos dos anos 50, quando a joia foi encontrada em um velho brechó na rua do Lavradio, no bairro da Lapa no Rio de Janeiro, entre quadros, mobília Art Nouveau do final do século XIX e quinquilharias, sem valor.

Uma joia de grande valor. Cordão em prata e camafeu relicário, de uma rosa, em madrepérola, adornada com águas-marinhas, contendo em seu interior, envelhecidos retratos, quase apagados, de um casal de crianças, aparentando idades entre oito e dez anos. Essa joia parecia ter 20 anos, provavelmente do início do século XX, final da Belle Époque, no Rio de Janeiro, então capital federal do Brasil.

Ela recebeu o camafeu, como presente de seu amor, um jovem de 30 anos, que conhecera há poucos meses. Com o agrado, o rapaz contou a história relatada, sobre o achado, a aquisição no brechó e o trabalho de restauração, além da história do casal de crianças da foto.

Em 1930, um hidroavião Junkers, denominado Potiguar, da empresa aérea Sindicato Condor, acidentou-se no mar, próximo à costa do estado de São Paulo. A aeronave transportava seis passageiros (dois casais, amigos, e seus filhos de oito e dez anos) e três tripulantes. Das nove pessoas a bordo só as crianças sobreviveram.

Separados pela tragédia, afastados e sem contato, resgataram as memórias esquecidas, ao reconhecerem o camafeu que a mãe do menino, madrinha da menina, carregava consigo e que se extraviou no dia do incidente. Mas o destino tornou a colocar no caminho dos dois.

Há 10 anos, quando meu avô faleceu, com 90 anos e 60 anos de bodas de diamante, minha avó, intencionalmente, esqueceu o camafeu, no canto do porão, para que pudesse ser encontrado e, então, seu inesquecível amor pudesse reconquistá-la.

Ao concluir esta linda história, minha avó suspirou e em meus braços descansou, feliz por ter a certeza de mais uma vez reencontrar o seu eterno namorado, pois o camafeu havia sido novamente encontrado.


"Viver é confrontar o caos no cotidiano,
evitando cair nas armadilhas da depressão."



 
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Helio.Valim
 
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Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 23/03/2021 19:09  Atualizado: 23/03/2021 19:09
Usuário desde: 03/09/2012
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 Re: O camafeu do destino
Poeta
Que história emocionante! Sensibilidade partilhada! Perfeito! Aplausos!
Favoritei!
Beijos!
Janna